quarta-feira, 25 de maio de 2011

EscolaXPais

A disciplina

Uma boa escola de Ensino Fundamental leva o aluno a ser um aprendiz disciplinado. Isso tem um grande significado, muitas vezes ignorado por famílias e educadores.
Um indivíduo disciplinado não é aquele que aceita regras sem opor contestações, como se acreditava há décadas. Por disciplina, entenda-se a capacidade de adiar gratificações, de fazer efetivamente o que precisa ser feito no momento adequado.
No mundo dos adultos, há um paralelo óbvio. Se precisamos trabalhar, trabalhamos, não vamos à praia, nem dormimos. Para um adolescente, por exemplo, há milhões de prazeres que concorrem com o dever de estudar - namorar, sair com amigos, falar ao telefone, ver televisão...
É uma dificuldade humana aceitar que a vida nos impõe a dicotomia entre o tempo curto (o imediato, o agora) e o tempo longo (aquilo que temos de conquistar passo-a-passo para que nosso futuro seja melhor). Até por isso, faz parte dos objetivos da Educação formar indivíduos capazes de superar o imediatismo e de ter metas a longo prazo.
No cotidiano do estudante, a disciplina também implica outras posturas que interferem diretamente no aprendizado. É o caso da organização do material de estudo, da concentração para assistir às aulas... É o caso também da capacidade de seguir instruções orais e escritas com método e independência, e de persistir frente às dificuldades, sem medo de fracassar.
Vale lembrar também que não há disciplina que resista ao sentimento de fracasso, de não-aceitação. Por isso, a escola e a família precisam fortificar a auto-estima do aluno, a certeza de que ele é, sim, capaz de superar dificuldades - empenhando-se, buscando auxílio com os companheiros, pais e professores.

A curiosidade

Ótima parceira da disciplina, a curiosidade impulsiona os avanços humanos. Pois "curiosidade" não é só uma característica pueril, como nossos avós pensavam. É a nossa capacidade de explorar o mundo que nos cerca, de fazer perguntas.
Muitas escolas ainda acreditam que ensinar é uma transferência de conhecimento de quem sabe para quem não sabe. Estas eliminam a possibilidade de formar alunos curiosos: não querem realmente que o aluno pergunte; querem que ele repita.
De forma simplificada, é preciso entender que "ensinar" é partir de hipóteses que o aluno já traz consigo para levá-lo (por meio de problematizações) a construir novos conhecimentos. É assim que todos aprendemos - confrontando as idéias que tínhamos com as que nos são apresentadas.
Por isso, manter alunos acesos e interessados é essencial. Na nova sala de aula, o trabalho intelectual não é prerrogativa do professor, mas um exercício comum a todos. Ao estar atento à aprendizagem, o aluno passa a valorizar o conhecimento e a ter o compromisso de aprender. Mais: aprende a admirar e a respeitar o mundo dos conceitos, do pensamento, das idéias.
O aluno que aprende a conciliar curiosidade e disciplina já no Ensino Fundamental certamente irá longe em sua escolaridade futura, pois adquiriu diversas habilidades essenciais.
Colégios com sólida base acadêmica exigem esse repertório e certa autonomia para aprender, pois o Ensino Médio demanda maior densidade de conteúdo, abstração e precisão de linguagem, em todas as disciplinas.
Da mesma forma, dispor de tais instrumentos será determinante para o futuro universitário e para o profissional do século XXI.
Como já se disse, aquilo que usualmente se chama de sucesso é composto de inspiração e também de muito trabalho. Na linguagem dos jovens, de paixão, sim, mas de muita transpiração.

OS PAIS E A FORMAÇÃO DE UM BOM ALUNO

Para a formação de um bom aluno, a família é tão ou mais importante do que a escola. Afinal, a Educação não se resume ao ensino formal, mas ao desenvolvimento integral, o que inclui os valores morais, as atitudes, o equilíbrio emocional, entre outros fatores. Antes de mais nada, os pais devem estar conscientes de que são os reais modelos de comportamento ético e moral dos filhos.
Mais do que conversar sobre esses princípios, deve-se demonstrá-los no dia-a-dia.

Algumas sugestões que certamente vão colaborar para a formação de melhores estudantes.

- Valorize o conhecimento, concretamente, dentro de casa. Um lar sem livros e leitores provavelmente não é um lar que valoriza a cultura.
- Realce a auto-estima de seus filhos com atenção e cuidado. Serão assim mais confiantes e serão capazes de resistir à pressão negativa dos grupos.
- Ensine-os a assumir a responsabilidade do que fizeram: arcar com as conseqüências naturais dos atos os estimula a desenvolver responsabilidade.
- Valorize o aprendizado permanente. Mostre que estamos sempre aprendendo e nos desenvolvendo, dizendo inclusive: "não sei, vamos descobrir juntos".
- Use apenas o melhor da TV. Deixe-a desligada o resto do tempo. Habilidades importantes são desenvolvidas na conversa, no jogo, na brincadeira. Faça isso com seus filhos.
Da mesma forma, para que se formem estudantes saudáveis, a relação entre a família e a escola deve ser cultivada. As crianças e os pré-adolescentes necessitam que os pais demonstrem interesse pelo que acontece na escola, pelo desenvolvimento alcançado, pela produção do aluno.

Por isso, é muito positivo

- acompanhar a vida escolar, informando-se sobre o desenvolvimento do aluno por fontes de informação fornecidas pela escola.
- participar dos eventos da escola (reuniões, mostras de trabalhos e eventos culturais).
- trabalhar cooperativamente com os professores. Visitar e comunicar-se com a escola, conhecendo o que pode ser feito em casa para melhorar a condição de aprendizagem de seus filhos.
- incentivar os filhos a utilizar diferentes fontes de informação (livros, enciclopédias, eletrônicas ou não, Internet, entrevistas) nas pesquisas solicitadas.
- ler com eles e para eles: ler em voz alta faz com que compreendam a língua escrita, sua estrutura, seu vocabulário.
- enfatizar que não há campo de estudo inútil. Todos são fundamentais, seja por seu conteúdo, por desenvolver o raciocínio ou por ampliar sua visão de mundo.

domingo, 22 de maio de 2011

Avaliação Escolar

A avaliação escolar é, antes de tudo, um processo que tem como objetivo permitir ao professor e à escola acompanhar o desempenho do aluno. E como tal, não deve ser pontual, eventual e realizada somente no final de um período escolar. Como processo, ela deve permitir acompanhar o aluno no seu cotidiano na escola, identificando seus progressos e retrocessos, suas dificuldades e facilidades.
Para Souza (1994) avaliação escolar, assim concebida, permite ao professor um retorno constante da adequação das atividades realizadas em classe e do desempenho do aluno. A avaliação é de fundamental importância para garantir ao professor o direcionamento de suas atividades em sala de aula. Sem uma avaliação escolar bem planejada e bem desenvolvida o professor desenvolve suas atividades às cegas, apenas na intuição e o aluno não tem parâmetros seguros para orientar seu comportamento, seus estudos e toda sua vida escolar.
Segundo Souza (1994) a avaliação não só orienta o professor no desenvolvimento do ensino, como também o aluno em relação a seu comportamento e seu processo de aprendizagem. Em sua opinião, o professor e a escola devem e podem utilizar múltiplos instrumentos na avaliação escolar, que vão garantir maior confiança nos resultados. De acordo com a autora, o constante contato com o aluno e a observação direta permitem o uso de instrumentos variados para analisar facetas diferenciadas do desempenho do aluno, favorecendo orientações para a tomada de decisão. O professor pode usar ferramentas como roteiros de observação do caderno, seminários de classe, portifólios, questionários, bem como a aplicação dos testes.
Para Souza (1994), os modelos de avaliação do processo ensino-aprendizagem do aluno, que são inúmeros, devem ser construídos e adaptados em cada escola. No entanto, todos devem apresentar condições de oferecer uma avaliação que seja diagnóstica do aluno; dos processos de aprendizagem que o aluno está percorrendo; dos procedimentos e estratégias apresentadas pelos professor; e dos resultados que estão sendo obtidos pelo aluno em classe e na escola
Segundo Hoffmann (1991) a avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação. Um professor que não avalia constantemente a ação educativa, no sentido indagativo, investigativo, do termo instala sua docência em verdades absolutas, pré-moldadas e terminais.
De acordo com a autora, a avaliação é reflexão transformada em ação. Ação essa, que nos impulsiona para novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre a realidade, e acompanhamento, passo a passo do educando, na sua trajetória de construção e conhecimento.
Para Perrenoud (1993) a avaliação de aprendizagem, no novo paradigma, é um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos.
Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de caráter diagnóstico. A avaliação é um processo que deve estar a serviço das individualizações de aprendizagem.
Para Luckesi (2002) a avaliação é o ato de diagnosticar uma experiência, tendo em vista reorientá-la para produzir o melhor resultado possível; por isso, não é classificatória, nem seletiva, ao contrario, é diagnóstica e inclusiva.

De acordo com o autor, examinar é classificatório e seletivo, e por isso mesmo, excludente, já que não se destina a construção do melhor resultado possível, e sim a classificação estática do que é examinado.
São situações opostas entre si, porém, nossos professores, em seu cotidiano não percebem tal distinção e quando dizem que estão avaliando, na verdade estão examinando.
Para Luckesi (2002) o processo avaliativo ainda não alcançou progressos no ensino, mantendo-se classificatório e seletivo. A proposta de mudanças de postura educacional é uma questão bastante complexa, A avaliação exige rigor técnico - cientifico, ampliando o aspecto pedagógico. Nessa perspectiva, o professor deve avaliar constantemente com a preocupação de não fragmentar o processo.
A avaliação deve ser um processo contínuo, que visa a correção das possíveis distorções e no encaminhamento para a consecução dos objetivos previstos. Trata-se  da continuidade da aprendizagem dos alunos e não da continuidade de provas.
O processo de avaliação de coloca como elemento integrador e motivador, e não como uma situação de ameaça, pressão ou terror.
A avaliação deve abranger três dimensões: o desempenho do aluno; o desempenho do professor e a adequação do programa;
Portanto, é necessário que o professor tenha um plano de ensino elaborado para nortear seu trabalho. Desta forma, toda tarefa realizada pelos alunos deveria ter, por intencionalidade básica, a investigação como um ponto de reflexão a sobre a prática dos envolvidos – professores e alunos.
A avaliação acontece em todas atividades com as trocas de informações do aluno, de seus colegas, do professor e da comunidade.
Segundo Demo (2000), o erro não é um corpo estranho, uma falha na aprendizagem. Ele é essencial, é parte do processo. Ninguém aprende se não errar. O homem tem uma estrutura cerebral ligada ao erro, é intrínseco ao saber-pensar, à capacidade de avaliar e refinar, por acerto ou erro, até chegar a uma aproximação final.
Os erros e dúvidas dos alunos são considerados episódios significativos e impulsionadores da ação educativa.































sábado, 14 de maio de 2011

O que é a Psicopedagogia?

A Psicopedagogia estuda o processo da aprendizagem humana e suas dificuldades, atuando em caráter preventivo e terapêutico.
O trabalho psicopedagógico tem como objetivo garantir a aplicação do raciocínio na manipulação do conteúdo escolar e cultural de maneira que o indivíduo se identifique e se aproprie da utilização dos conceitos aprendidos em qualquer situação .
O atendimento psicopedagogico é composto de duas etapas:


Diagnóstico: Busca através de coletas de dados , aplicações de testes e avaliações a fim de identificar as causas das dificuldades de aprendizagem as quais podem refletir-se em problemas de concentração, de atenção, de memória, de capacidade de análise, na leitura, na escrita, no pensamento lógico-matemático, mas poderá também identificar outros problemas podendo-se indicar um psicólogo, um fonoaudiólogo, um neurologista, ou outro profissional a depender do caso.
A avaliação é composta de aproximadamente 8 encontros semanais, sendo 6 sessões com a criança e duas com os pais. Na última sessão é entregue o resultado das avaliações com o parecer e possíveis indicações.


Intervenção (tratamento): Essa é a segunda etapa do atendimento, após o diagnóstico. Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este bloqueio. Para isto, utiliza‑se recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras coisas que forem oportunas .É solicitado, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos, olhando a organização e os possíveis erros, ajudando‑o a compreende-los.
A criança ou adolescente, irá encontrar a melhor forma de estudar para que ocorra a aprendizagem.
Durante a intervenção os pais ou responsáveis terão devolutivas do trabalho que vem sendo desenvolvido, bem como, progressos e resultados. A escola também receberá nossos relatórios e visitas como continuidade da parceria proposta na avaliação

DISORTOGRAFIA

Até a 2ª série é comum que as crianças façam confusões ortográficas porque a relação com os sons e palavras impressas ainda não estão dominadas por completo. Porém, após estas séries, se as trocas ortográficas persistirem repetidamente, é importante que o professor esteja atento já que pode se tratar de uma disortografia.
A característica principal de um sujeito com disortografia são as confusões de letras, sílabas de palavras, e trocas ortográficas já conhecidas e trabalhadas pelo professor.


Caraterísticas:

- - Troca de letras que se parecem sonoramente: faca/vaca, chinelo/jinelo, porta/borta.
- - Confusão de sílabas como: encontraram/encontrarão.
- - Adições: ventitilador.
- - Omissões: cadeira/cadera, prato/pato.
- - Fragmentações: en saiar, a noitecer.
- - Inversões: pipoca/picoca.
- - Junções: No diaseguinte, sairei maistarde.

Orientações:

Estimular a memória visual através de quadros com letras do alfabeto, números, famílias silábicas.
Não exigir que a criança escreva vinte vezes a palavra, pois isso de nada irá adiantar.
Não reprimir a criança e sim auxiliá-la positivamente.

Por Simaia Sampaio

DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE


Os distúrbios comportamentais de atenção e
hiperatividade parecem englobar, na realidade,
quadros comportamentais variáveis e associados
a diversas patologias do sistema nervoso central.
Muitos desses quadros parecem ter uma causa
genética, porém outros parecem estar associados
a outros tipos de distúrbios do desenvolvimento
cerebral.
Muitas mães de crianças hiperativas relatam já
uma atividade fetal aumentada, e um recém
nascido muito irriquieto. Geralmente, o
aprendizado da marcha é rápido e logo a criança
está correndo. Dificilmente fica parada, mesmo às
refeições.
O tempo organiza nossa vida. Determina
nossas rotinas. À noite dormir; levantar pela
manhã; ir à escola (trabalho); almoçar, etc.
Para muitas tarefas parece não ser
necessário o relógio. O cansaço nos faz ir
para a cama, a fome nos leva a comer, etc.
Mas você já reparou que a fome, em geral,
surge no nosso horário habitual de
alimentação, e o sono em torno da hora em
que, em geral, nos acostumamos a ir para a
cama?
O cérebro utiliza muitos circuitos neurais para medir tempos, e
determinar os chamados ritmos circadianos: o ciclo vigília-sono,
os ciclos alimentares, hormonais, etc. Esses circuitos
desencadeiam a ação de outras áreas cerebrais que controlam
comportamentos básicos e repetitivos: sensação da fome, sono,
ovulação, etc.
Existem neurônios que são ativados quando um evento é
imaginado ou reconhecido pela nossa percepção. Imaginar ou
reconhecer um evento é integrar um conjunto de
acontecimentos dentro de um mesmo tema: sentarmos a mesa,
colocarmos comida no prato, comer, constituem acontecimentos
do evento "almoçar". Esses neurônios interagem com circuitos
neurais que se encarregam em registrar o tempo que dura cada
evento acontecido e também o tempo decorrido entre eles,
constituindo a memória retrospectiva. Quando eles interagem
com circuitos que se encarregam em definir o tempo de eventos
futuros constituem, junto com esses circuitos, a memória
prospectiva.

MEMÓRIA RETROSPECTIVA
Beto inicia seu novo período escolar. Sua mãe o acorda, ele vai à
escola, toma seu lanche, retorna para o almoço.
Para memorizar esses eventos, ele organiza a seqüência de suas
atividades na memória retrospectiva.
Os neurônios que reconhecem eventos ou episódios encontramse
na região do hipocampo e constituem a chamada memória
episódica. Outros neurônios vizinhos registram a seqüência em
que esses eventos ocorreram: primeiro levantar; depois
caminhar; depois lanchar, etc. Além da seqüência, também
medem os intervalos de tempos entre esses evento, por exemplo:
tempo lanche – tempo levantar é maior que tempo almoço –
tempo voltar.
Os tempos de todos os eventos de nossa vida são assim
registrados. Esquecemos de muitos deles, mas sempre
guardamos os mais importantes. Por isso, falamos do passado
sempre nos referenciando a eventos marcantes: Foi depois que
Beto nasceu ....; Aconteceu quando Lili começou o Ensino Infantil
..., e assim por diante.
Essa cronologia fica registrada através da eficácia da
conexão entre neurônios na região do hipocampo. Ali existe,
também, células que quando ativadas provocam em nós a
sensação de novidade e são chamadas de células de
novidade.
No hipocampo existem inúmeros neurônios de
reconhecimento episódico que nunca foram ativados e que
estão estreitamente conectados às células de novidade.
Quando um evento ocorre pela primeira vez, ele ativa
fortemente um desses neurônios, e sua estreita conexão com
a célula de novidade nos proporciona a sensação de
novidade. Mas essa forte ativação afrouxa a conexão entre
ele e a célula de novidade. Dessa forma, nas próximas vezes
que o mesmo evento ocorrer a sensação de novidade será
cada vez menor, pois o neurônio que agora reconhecerá
sempre esse episódio estará cada vez menos conectado com
a célula de novidade.
Lesões na região do hipocampo podem ter efeitos
devastadores, pois podem destruir a nossa
memória retrospectiva. Deixamos de reconhecer
nossos familiares, nossos amigos, os locais
importantes de nossa vida, etc. Tudo se torna
novo para nós e precisamos reaprender tudo outra
vez.
Alternativamente, as lesões podem destruir a
capacidade de reconhecer o recente. Não
perdemos nosso passado antigo, mas não
podemos gravar nosso passado recente. A partir
do momento da lesão, perdemos nossa
capacidade de guardar o ocorrido. Já não
podemos mais nos lembrar do que aconteceu
minutos atrás.
Beto está planejando ir brincar com seus amigos depois que
voltar da escola.
Para isso, ele organiza a seqüência de suas atividades na
memória prospectiva ou também memória executiva ou de
trabalho.
Mas precisa, também, utilizar informações da memória
retrospectiva sobre sua rotina e tempo de duração e de distância
entre seus eventos, para ativar circuitos controladores do tempo
futuro no lobo frontal. É como se pudesse contar com vários
despertadores, que podem ser colocados para ativar um
comportamento (ir à escola; tomar lanche; ...; brincar) em tempos
distintos, porém ordenados (primeiro escola; ...; por último
brincar ).
Distúrbios da memória executiva podem acarretar diferentes
tipos de problemas. Por exemplo, a criança pode perder a
capacidade de planejar suas atividades, o que pode ter um efeito
devastador em sua vida
A hiperatividade e os distúrbios de atenção,
característicos de um grupo de crianças, também têm
relação com uma disfunção da memória executiva. Os
circuitos frontais delas parecem ser incapazes de
programar seqüências longas de eventos. É como se não
pudessem utilizar despertadores para programar muitos
eventos ou eventos que ocorram por mais que alguns
minutos.
Imagine uma situação comum de sala de aula. Levantar;
ir à lousa; pegar o giz; escrever o que a professora ditar,
e voltar para a carteira.
A criança poderá programar, em sua memória executiva,
apenas: Levantar; ir à lousa. No meio do caminho, pode
se distrair com algum ruído e reprogramar sua memória:
Ir à porta; verificar o que aconteceu.
.

A noção de Tempo

DISGRAFIA

O que é:

A disgrafia é também chamada de letra feia. Isso acontece devido a uma incapacidade de recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar este grafismo escreve muito lentamente o que acaba unindo inadequadamente as letras, tornando a letra ilegível.
Algumas crianças com disgrafia possui também uma disortografia amontoando letras para esconder os erros ortográficos. Mas não são todos disgráficos que possuem disortografia
A disgrafia, porém, não está associada a nenhum tipo de comprometimento intelectual.

Carcaterísticas:
- - Lentidão na escrita.
- - Letra ilegível.
- - Escrita desorganizada.
- - Traços irregulares: ou muito fortes que chegam a marcar o papel ou muito leves.
- - Desorganização geral na folha por não possuir orientação espacial.
- - Desorganização do texto, pois não observam a margem parando muito antes ou ultrapassando. Quando este último acontece, tende a amontoar letras na borda da folha.
- - Desorganização das letras: letras retocadas, hastes mal feitas, atrofiadas, omissão de letras, palavras, números, formas distorcidas, movimentos contrários à escrita (um S ao invés do 5 por exemplo).
- - Desorganização das formas: tamanho muito pequeno ou muito grande, escrita alongada ou comprida.
- - O espaço que dá entre as linhas, palavras e letras são irregulares.
- - Liga as letras de forma inadequada e com espaçamento irregular.

O disgráfico não apresenta características isoladas, mas um conjunto de algumas destas citadas acima.

Tipos:
Podemos encontrar dois tipos de disgrafia:
- Disgrafia motora (discaligrafia): a criança consegue falar e ler, mas encontra dificuldades na coordenação motora fina para escrever as letras, palavras e números, ou seja, vê a figura gráfica, mas não consegue fazer os movimentos para escrever
- Disgrafia perceptiva: não consegue fazer relação entre o sistema simbólico e as grafias que representam os sons, as palavras e frases. Possui as características da dislexia sendo que esta está associada à leitura e a disgrafia está associada à escrita.

Tratamento e orientações:

O tratamento requer uma estimulação lingüística global e um atendimento individualizado complementar à escola.
Os pais e professores devem evitar repreender a criança.
Reforçar o aluno de forma positiva sempre que conseguir realizar uma conquista.
Na avaliação escolar dar mais ênfase à expressão oral.
Evitar o uso de canetas vermelhas na correção dos cadernos e provas.
Conscientizar o aluno de seu problema e ajudá-lo de forma positiva.
Por Simaia Sampaio

Dislexia

O que é?
A dislexia é um distúrbio na leitura afetando a escrita, normalmente detectado a partir da alfabetização, período em que a criança inicia o processo de leitura de textos. Seu problema torna-se bastante evidente quando tenta soletrar letras com bastante dificuldade e sem sucesso.
Porém se a criança estiver diante de pais ou professores especialistas a dislexia poderá ser detectada mais precocemente, pois a criança desde pequena já apresenta algumas
características que denunciam suas dificuldades, tais como:

- - Demora em aprender a segurar a colher para comer sozinho, a fazer laço no cadarço do sapato, pegar e chutar bola.
- - Atraso na locomoção.
- - Atraso na aquisição da linguagem.
- - Dificuldade na aprendizagem das letras.

A criança dislexa possui inteligência normal ou muitas vezes acima da média. Sua dificuldade consiste em não conseguir identificar símbolos gráficos (letras e/ou números) tendo como conseqüência disso a dificuldade na leitura e escrita.
A dislexia normalmente é hereditária. Estudos mostram que dislexos possuem pelo menos um familiar próximo com dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita.
O distúrbio envolve percepção, memória e análise visual. A área do cérebro responsável por estas funções envolve a região do lobo occipital e parietal.
Características:
- Confusão de letras, sílabas ou palavras que se parecem graficamente: a-o, e-c, f-t, m-n, v-u.
- Inversão de letras com grafia similar: b/p, d/p, d/q, b/q, b/d, n/u, a/e.
- Inversões de sílabas: em/me, sol/los, las/sal, par/pra.
- Adições ou omissões de sons: casa Lê casaco, prato lê pato.
- Ao ler pula linha ou volta para a anterior.
- Soletração defeituosa: lê palavra por palavra, sílaba por sílaba, ou reconhece letras isoladamente sem poder ler.
- Leitura lenta para a idade.
- Ao ler, movem os lábios murmurando.
- Freqüentemente não conseguem orientar-se no espaço sendo incapazes de distinguir direita de esquerda. Isso traz dificuldades para se orientarem com mapas, globos e o próprio ambiente.
- Usa dedos para contar.
- Possui dificuldades em lembrar se seqüências: letras do alfabeto, dias da semana, meses do ano, lê as horas.
- Não consegue lembrar-se de fatos passados como horários, datas, diário escolar.
- Alguns possuem dificuldades de lembrar objetos, nomes, sons, palavras ou mesmo letras.
- Muitos conseguem copiar, mas na escrita espontânea como ditado e ou redações mostra severas complicações.
- Afeta mais meninos que meninas.


O dislexo geralmente demonstra insegurança e baixa auto-estima, sentindo-se triste e culpado. Muitos se recusam a realizar atividades com medo de mostrar os erros e repetir o fracasso. Com isto criam um vínculo negativo com a aprendizagem, podendo apresentar atitude agressiva com professores e colegas.

Antes de atribuir a dificuldade de leitura à dislexia alguns fatores deverão ser descartados, tais como:
- imaturidade para aprendizagem;
- problemas emocionais;
- métodos defeituosos de aprendizagem;
- ausência de cultura;
- incapacidade geral para aprender.

Tratamento e orientações:
- O tratamento deve ser realizado por um especialista ou alguém que tenha noções de ajuda ao dislexo. Deve ser individual e freqüente.
Durante o tratamento deve-se usar material estimulante e interessante. - Ao usar jogos e brinquedos empregar preferencialmente os que contenham letras e palavras.
- Reforçar a aprendizagem visual com o uso de letras em alto relevo, com diferentes texturas e cores. É interessante que ele percorra o contorno das letras com os dedos para que aprenda a diferenciar a forma da letra.
- Deve-se iniciar por leituras muito simples com livros atrativos, aumentando gradativamente conforme seu ritmo.
- Não exigir que faça avaliação de outra língua. Deve-se dar mais importância na superação de sua dificuldade do que na aprendizagem de outra língua.
- O tratamento psicológico não é recomendado a não ser nos casos de graves complicações emocionais.
- Substituir o ensino através do método global (já que não consegue perceber o todo), por um sistema mais fonético.
- Não estimule a competição com colegas nem exija que ele responda no mesmo tempo que os demais.
- Oriente o aluno para que escreva em linhas alternadas, para que tanto ele quanto o professor possa entender o que escreveu e poder corrigi-los.
- Quando a criança não estiver disposta a fazer a lição em um dia ou outro não a force. Procure outras alternativas mais atrativas para que ele se sinta estimulado.
- Nunca critique negativamente seus erros. Procure mostrar onde errou, porque errou e como evitá-los. Mas atenção: não exagere nas inúmeras correções, isso pode desmotivá-lo. Procure mostrar os erros mais relevantes.
- Peça que os pais releiam o diário de classe sem criticá-los por não conseguir fazê-lo, pois a criança pode esquecer o que foi pedido e/ou não conseguir ler as instruções.

Por Simaia Sampaio

Bibliografia:

CONDEMARÍN, Mabel, BLOMQUIST, Marlys. (1989). Dislexia; manual de leitura corretiva. 3ª ed. Tradução de Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas.
ELLIS, Andrew W. (1995). Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. 2 ed. Tradução de Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas.
JOSÉ, Elisabete da Assunção José & COELHO, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. 12ª edição, São Paulo: Ática.

Diagnóstico Psicopedagógico

Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário.
É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da "...escuta psicopedagógica...", para que "...se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção". (BOSSA, 2000, p. 24).
Na Epistemologia Convergente todo o processo diagnóstico é estruturado para que se possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo de onde resulta o funcionamento do sujeito (BOSSE, 1995, p. 80)
Conforme Weiss,

O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. (2003, p. 32 )
O diagnóstico possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento. Ele mexe de tal forma com o paciente e sua família que, por muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito teve uma melhora ou tornou-se agressivo e agitado no decorrer do trabalho diagnóstico. Por isso devemos fazer o diagnóstico com muito cuidado observando o comportamento e mudanças que isto pode acarretar no sujeito.
Para ilustrar como o diagnóstico interfere na vida do sujeito e sua família, citaremos um exemplo de Weiss: uma paciente, uma adolescente de 18 anos cursando a 7ª série de escola especial, queixou-se à mãe que ela (Weiss) estava forçando-a a crescer. Ela conseguiu fazer a elaboração deste pensamento porque tinha medo de perder o papel na família da doente que necessitava de atenção exclusiva para ela. A família percebeu que isto realmente poderia acontecer e era isto também que sustentava seu casamento "já acabado". Concordou com a terapeuta em interromper o diagnóstico (2003, p. 33 ).
Bossa nos lembra que a forma de se operar na clínica para se fazer um diagnóstico varia entre os profissionais dependendo da postura teórica adotada. (p. 96, 2000).
Na linha da Epistemologia Convergente, Visca nos informa que o diagnóstico começa com a consulta inicial (dos pais ou do próprio paciente) e encerra com a devolução (1987, p. 69).
Antes de se iniciar as sessões com o sujeito faz-se uma entrevista contratual com a mãe e/ou o pai e/ou responsável, objetivando colher informações como:

§ Identificação da criança: nome, filiação, data de nascimento, endereço, nome da pessoa que cuida da criança, escola que freqüenta, série, turma, horário, nome da professora, irmãos, escolaridades dos irmãos, idade dos irmãos.
§ Motivo da consulta;
§ Procura do Psicopedagogo: indicação;
§ Atendimento anterior;
§ Expectativa da família e da criança;
§ Esclarecimento sobre o trabalho psicopedagógico.
§ Definição de local, data e horário para a realização das sessões e honorários.

Visca propôs o seguinte Esquema Seqüencial Proposto pela Epistemologia Convergente:
Ações do entrevistador
1. EOCA

2. Testes



3. Anamnese


4. Elaboração do Informe Procedimentos Internos do Entrevistador
1º sistema de hipóteses
Linhas de investigação

Escolha de instrumentos
2º sistema de hipóteses
Linhas de investigação

Verificação e decantação do 2º sistema de hipótese.
Formulação do 3º sistema de hipóteses

Elaboração de uma imagem do sujeito (irrepetível) que articula a aprendizagem com os aspectos energéticos e estruturais, a-históricos e históricos que a condicionam.
(VISCA, 1991)
Observamos, no quadro acima, que ele propõe iniciar o diagnóstico com a EOCA e não com a anamnese argumentando que "... os pais, invariavelmente ainda que com intensidades diferentes, durante a anamnese tentam impor sua opinião, sua ótica, consciente ou inconscientemente. Isto impede que o agente corretor se aproxime 'ingenuamente' do paciente para vê-lo tal como ele é, para descobri-lo. (Id. Ibid., 1987, p. 70).
Os profissionais que optam pela linha da Epistemologia Convergente realizam a anamnese após as provas para que não haja "contaminação" pelo bombardeio de informações trazidas pela família, o que acabaria distorcendo o olhar sobre aquela criança e influenciando no resultado do diagnóstico.
Porém, alguns profissionais iniciam o diagnóstico com a anamnese. É o caso de Weiss. Compare abaixo o quadro da seqüência diagnóstica proposta por ela:
1º - Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.)
2º - Anamnese
3º - Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças)
4º - Complementação com provas e testes (quando for necessário)
5º - Síntese Diagnóstica - Prognóstico
6º - Devolução - Encaminhamento
(WEISS, 1994)
Esta diferença não altera o resultado do diagnóstico, porém é preciso que o profissional acredite na linha em que escolheu para seu trabalho psicopedagógico.
Como o presente trabalho está baseado na Epistemologia Convergente abordaremos a anamnese ao final e iniciaremos falando sobre a EOCA.
A realização da EOCA tem a intenção de investigar o modelo de aprendizagem do sujeito sendo sua prática baseada na psicologia social de Pichón Rivière, nos postulados da psicanálise e método clínico da Escola de Genebra (BOSSA, 2000, p. 44).
Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após a seguinte observação do entrevistador: "este material é para que você o use se precisar para mostrar-me o que te F@lei que queria saber de você" (VISCA, 1987, p. 72).
O entrevistador poderá apresentar vários materiais tais como: folhas de ofício tamanho A4, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou revistas, barbantes, cola, lápis, massa de modelar, lápis de cor, lápis de cera, quebra-cabeça ou ainda outros materiais que julgar necessários.
O entrevistado tende a comportar-se de diferentes maneiras após ouvir a consigna. Alguns imediatamente, pegam o material e começam a desenhar ou escrever etc. Outros começam a falar, outros pedem que lhe digam o que fazer, e outros simplesmente ficam paralisados. Neste último caso, Visca nos propõe empregar o que ele chamou de modelo de alternativa múltipla (1987, p. 73), cuja intenção é desencadear respostas por parte do sujeito. Visca nos dá um exemplo de como devemos conduzir esta situação: "você pode desenhar, escrever, fazer alguma coisa de matemática ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça..." (1987, p. 73).
Vejamos o que Sara Paín nos fala sobre esta falta de ação na atividade "A hora do jogo" (atividade trabalhada por alguns psicólogos ou Psicopedagogos que não se aplica à Epistemologia Convergente, porém é interessante citar para percebermos a relação do sujeito com o objeto):

No outro extremo encontramos a criança que não toma qualquer contato com os objetos. Às vezes se trata de uma evitação fóbica que pode ceder ao estímulo. Outras vezes se trata de um desligamento da realidade, uma indiferença sem ansiedade, na qual o sujeito se dobra às vezes sobre seu próprio corpo e outras vezes permanece numa atividade quase catatônica. (1992, p. 53).
Piaget, em Psicología de la Inteligência, coloca que:
O indivíduo não atua senão quando experimenta a necessidade; ou seja; quando o equilíbrio se acha momentaneamente quebrado entre o meio e o organismo, a ação tende a reestabelecer este equilíbrio, quer dizer, precisamente, a readaptar o organismo... (PIAGET apud VISCA, 1991, p. 41).
De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA são "...seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade horizontal e vertical etc (1987, p. 73).
É importante também observar três aspectos que fornecerão um sistema de hipóteses a serem verificados em outros momentos do diagnóstico:
· A temática - é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um aspecto manifesto e outro latente;
· A dinâmica - é tudo aquilo que o sujeito faz, ou seja, gestos, tons de voz, postura corporal, etc). A forma de pegar os materiais, de sentar-se são tão ou mais reveladores do que os comentários e o produto.
· O produto - é tudo aquilo que o sujeito deixa no papel.
(Id. Ibid., 1987, p. 74)
Visca (1987) observa que o que obtemos nesta primeira entrevista é um conjunto de observações que deverão ser submetidas a uma verificação mais rigorosa, constituindo o próximo passo para o processo diagnóstico.
É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o 1º Sistema de hipóteses e definirá sua linha de pesquisa. Logo após são selecionadas as provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as provas projetivas psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares.
Visca reuniu em seu livro: El diagnostico operatório em la practica psicopedagogica, as provas operatórias aplicadas no método clínico da Escola de Genebra por Piaget, no qual expõe sucintamente os passos em que usou com grupos de estudo e cursos para o ensino do diagnóstico psicopedagógico, comentando o porque de cada passo.
A aplicação das provas operatórias tem como objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito realizando uma análise quantitativa, e reconhecer a diferenças funcionais realizando um estudo predominantemente qualitativo. (Id. Ibid., p. 11, 1995).
O autor nos alerta que as provas "...no siempre han sido adecuadamente entendidas y utilizadas de acuerdo com todas las posibilidades que las mismas poseen" (1995, p. 11). Isto se deve, talvez, a uma certa dificuldade de sua correta aplicação, evolução e extração das conclusões úteis para entender a aprendizagem.
Segundo Weiss:
As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera (2003, p. 106).

Ela ainda nos alerta que não se deve aplicar várias provas de conservação em uma mesma sessão, para se evitar a contaminação da forma de resposta. Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros detalhados dos procedimentos da criança, observando e anotando suas falas, atitude, soluções que dá às questões, seus argumentos e juízos, como arruma o material. Isto será fundamental para a interpretação das condutas.
Para a avaliação as respostas são divididas em três níveis:
· Nível 1: Não há conservação, o sujeito não atinge o nível operatório nesse domínio.
· Nível 2 ou intermediário: As respostas apresentam oscilações, instabilidade ou não são completas. Em um momento conservam, em outro não.
· Nível 3: As respostas demonstram aquisição da noção sem vacilação.

Muito interessante o que Weiss nos diz sobre as diferentes condutas em provas distintas:
...pode ocorrer que o paciente não obtenha êxito em apenas uma prova, quando todo o conjunto sugere a sua possibilidade de êxito. Pode-se ver se há um significado particular para a ação dessa prova que sofra uma interferência emocional: encontramos várias vezes crianças, filhos de pais separados e com novos casamentos dos pais, que só não obtinham êxito na prova de intersecção de classes. Podemos ainda citar crianças muito dependentes dos adultos que ficam intimidadas com a contra-argumentação do terapeuta, e passam a concordar com o que ele fala, deixando de lado a operação que já são capazes de fazer (2003, p. 111).

Em relação a crianças com alguma deficiência mental ela nos diz que:
No caso de suspeita de deficiência mental, os estudos de B. Inhelder (1944) em El diagnóstico del razonamiento en los débiles mentales mostram que os oligofrênicos (QI 0-50) não chegam a nenhuma noção de conservação; os débeis mentais (QI 50-70) chegam a ter êxito na prova de conservação de substância; os fronteiriços (QI 70-80) podem chegar a ter sucesso na prova de conservação de peso; os chamados de inteligência normal "obtusa" ou "baixa", podem obter êxito em provas de conservação de volume, e às vezes, quando bem trabalhados, podem atingir o início do pensamento formal (2003, p.111-112).

Visca também reuniu em um outro livro: Técnicas proyetivas psicopedagogicas, as provas projetivas, cuja aplicação tem como objetivo investigar os vínculos que o sujeito pode estabelecer em três grandes domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo, através dos quais é possível reconhecer três níveis em relação ao grau de consciência dos distintos aspectos que constituem o vínculo de aprendizagem.
Sobre as provas projetivas Weiss observa que:

O princípio básico é de que a maneira do sujeito perceber, interpretar e estruturar o material ou situação reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento como procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer algo que lhe é apresentado. Podem-se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente escolar (2003, p. 117)
Para Sara Paín, o que podemos avaliar através do desenho ou relato é a capacidade do pensamento para construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar a emoção. Também permitirá avaliar a deteriorização que se produz no próprio pensamento. Esta autora ainda nos diz que o pensamento fala através do desenho onde se diz mal ou não se diz nada, o que oferece a oportunidade de saber como o sujeito ignora (1992, p. 61).
De acordo com a Epistemologia Convergente, após a aplicação das provas operatórias e das técnicas projetivas o psicopedagogo levantará o 2º Sistema de hipóteses e organizará sua linha de pesquisa para a anamnese que, como já vimos, terá lugar no final do processo diagnóstico, de modo a não contaminar previamente a percepção do avaliador.
Weiss nos diz que:

As observações sobre o funcionamento cognitivo do paciente não são restritas às provas do diagnóstico operatório; elas devem ser feitas ao longo do processo diagnóstico. Na anamnese verifica-se com os pais como se deu essa construção e as distorções havidas no percurso;... (2003, p.106).
A anamnese é uma das peças fundamentais deste quebra-cabeça que é o diagnóstico. Através dela nos serão reveladas informações do passado e presente do sujeito juntamente com as variáveis existentes em seu meio. Observaremos a visão da família sobre a história da criança, seus preconceitos, expectativas, afetos, conhecimentos e tudo aquilo que é depositado sobre o sujeito.
... toda anamnese já é, em si, uma intervenção na dinâmica familiar em relação à "aprendizagem de vida". No mínimo se processa uma reflexão dos pais, um mergulho no passado, buscando o início da vida do paciente, o que inclui espontaneamente uma volta à própria vida da família como um todo (Id. Ibid., 2003, p. 63).
Segundo Weiss, o objetivo da anamnese é "colher dados significativos sobre a história de vida do paciente" (2003, p. 61).
Consiste em entrevistar o pai e/ou a mãe, ou responsável para, a partir disso, extrair o máximo de informações possíveis sobre o sujeito, realizando uma posterior análise e levantamento do 3º sistema de hipóteses. Para isto é preciso que seja muito bem conduzida e registrada.
O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade "... para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à aprendizagem". (Id. Ibid., 2003, p. 62).
Deixá-los falar espontaneamente permite ao psicopedagogo avaliar o que eles recordam para falar, qual a seqüência e a importância dos fatos. O psicopedagogo deverá complementar ou aprofundar.
Conforme Weiss, em alguns casos deixa-se a família falar livremente. Em outros, a depender das características da família, faz-se necessário recorrer a perguntas sempre que necessário. Os objetivos deverão estar bem definidos, e a entrevista deverá ter um caráter semidiretivo (2003, p. 64).
De acordo com Paín, a história vital nos permitirá "...detectar o grau de individualização que a criança tem com relação à mãe e a conservação de sua história nela" (1992, p. 42).
É importante iniciar a entrevista falando sobre a gravidez, pré-natal, concepção. Weiss nos informa que,

"A história do paciente tem início no momento da concepção. Os estudos de Verny (1989) sobre a Psicologia pré-natal e perinatal vêm reforçar a importância desses momentos na vida do indivíduo e, de algum modo, nos aspectos inconscientes de aprendizagem" (2003, p. 64).
Algumas circunstâncias do parto como falta de dilatação, circular de cordão, emprego de fórceps, adiamento de intervenção de cesárea, "costumam ser causa da destruição de células nervosas que não se reproduzem e também de posteriores transtornos, especialmente no nível de adequação perceptivo-motriz" (PAÍN, 1992, p. 43).
É interessante perguntar se foi uma gravidez desejada ou não, se foi aceito pela família ou rejeitado. Estes pontos poderão determinar aspectos afetivos dos pais em relação ao filho.
Posteriormente é importante saber sobre as primeiras aprendizagens não escolares ou informais, tais como: como aprendeu a usar a mamadeira, o copo, a colher, como e quando aprendeu a engatinhar, a andar, a andar de velocípede, a controlar os esfíncteres, etc. A intenção é descobrir "em que medida a família possibilita o desenvolvimento cognitivo da criança - facilitando a construção de esquemas e deixando desenvolver o equilíbrio entre assimilação e acomodação...". (WEISS, 2003, p.66).
É interessante saber sobre a evolução geral da criança, como ocorreram seus controles, aquisição de hábitos, aquisição da fala, alimentação, sono etc., se ocorreram na faixa normal de desenvolvimento ou se houve defasagens.
Se a mãe não permite que a criança faça as coisas por si só, não permite também que haja o equilíbrio entre assimilação e acomodação. Alguns pais retardam este desenvolvimento privando a criança de, por exemplo, comer sozinha para não se lambuzar, tirar as fraldas para não se sujar e não urinar na casa, é o chamado de hipoassimilação (PAÍN, 1992), ou seja, os esquemas de objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de coordená-los.
Por outro lado há casos de internalização prematura dos esquemas, é o chamado de hiperassimilação (PAÍN, 1992), pais que forçam a criança a fazer determinadas coisas das quais ela ainda não está preparada para assimilar, pois seu organismo ainda está imaturo, o que acaba desrealizando negativamente o pensamento da criança.
Sobre o que acabamos de mencionar Sara Paín nos diz que é interessante saber se as aquisições foram feitas pela criança no momento esperado ou se foram retardadas ou precoces. "Isto nos permite estabelecer um quociente aproximado de desenvolvimento, que se comparará com o atual, para determinar o deterioramento ou incremento no processo de evolução" (1992, p. 45).
A mesma autora aconselha insistirmos "... nas modalidades para a educação do controle dos esfíncteres quando apareçam perturbações na acomodação... " (1992, p. 42).
Weiss nos orienta também saber sobre a história clínica, quais doenças, como foram tratadas, suas conseqüências, diferentes laudos, seqüelas.
A história escolar é muito importante, quando começou a freqüentar a escola, sua adaptação, primeiro dia de aula, possíveis rejeições, entusiasmo, porque escolheram aquela escola, trocas de escola, enfim, os aspectos positivos e negativos e as conseqüências na aprendizagem.
Todas estas as informações essenciais da anamnese devem ser registradas para que se possa fazer um bom diagnóstico.
Encerrada a anamnese, o psicopedagogo levantará o 3º sistema de hipóteses. A anamnese deverá ser confrontada com todo o trabalho do diagnóstico para se fazer a devolução e o encaminhamento.
Devolução no dicionário é o ato de devolver, de dar de volta (ROCHA, 1996, p. 208). No sentido da clínica psicopedagógica a devolução é uma comunicação verbal, feita aos pais e ao paciente, dos resultados obtidos através de uma investigação que se utilizou do diagnóstico para obter resultados.

"... talvez o momento mais importante desta aprendizagem seja a entrevista dedicada à devolução do diagnóstico, entrevista que se realiza primeiramente com o sujeito e depois com os pais (quando se trata de uma criança, é claro)" (PAÍN, 1992, p. 72).
Segundo Weiss, no caso da criança, é preciso fazer a devolução utilizando-se de uma linguagem adequada e compreensível para sua idade para que não fique parecendo que há segredos entre o terapeuta e os pais, ou que o terapeuta os traiu (1992, p. 130).
É perfeitamente normal que, neste momento, exista muita ansiedade para todos os envolvidos no processo, seja o psicopedagogo, o paciente e os pais. Muitas vezes algumas suspeitas observadas ao longo do diagnóstico tendem a se revelar no momento da devolução, "ficam evidentes nestas falas as fantasias que chegam ao momento da devolução, e que estiveram presentes durante todo o processo diagnóstico" (Id. Ibid., 2003, p. 130).
Alguns pais chegam à devolução sem terem consciência ou camuflam o que sabem sobre seu filho. É preciso tomar consciência da situação e providenciar suas transformações, caso contrário, não será possível realizar um contrato de tratamento.
Weiss orienta organizar os dados sobre o paciente em três áreas: pedagógica, cognitiva e afetivo-social, e posteriormente rearrumar a seqüência dos assuntos a serem abordados, a que ponto dará mais ênfase. É necessário haver um roteiro para que o psicopedagogo não se perca e os pais não fiquem confusos. Tudo deve ser feito com muito afeto e seriedade, passando segurança. Os pais, assim, muitas vezes acabam revelando algo neste momento que surpreende e acaba complementando o diagnóstico.
É importante que se toque inicialmente nos aspectos mais positivos do paciente para que o mesmo se sinta valorizado. Muitas vezes a criança já se encontra com sua auto-estima tão baixa que a revelação apenas dos aspectos negativos acabam perturbando-o ainda mais, o que acaba por inviabilizar a possibilidade para novas conquistas.
Depois deverão ser mencionados os pontos causadores dos problemas de aprendizagem.
Posterior a esta conduta deverá ser mencionada as recomendações como troca de escola ou de turma, amenizar a super-proteção dos pais, estimular a leitura em casa etc, e as indicações que são os atendimentos que se julgue necessário como psicopedagogo, fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista etc.

Em casos de quadros psicóticos, neuroses graves ou outras patologias, é necessário um tratamento psicoterápico inicial, até que o paciente atinja um ponto tal que tenha condições de perceber a sua própria necessidade de aprender e crescer no que respeita à escolaridade; é preciso que se instale nele o desejo de aprender (Weiss, 2003, p. 136).
Muitas vezes faz-se necessário o encaminhamento para mais de um profissional. E isto complica quando a família pertence a um baixo nível socioeconômico. É importante que no momento da devolução o psicopedagogo tenha algumas indicações de instituições particulares e públicas que ofereçam serviços gratuitos ou com diferentes formas pagamento. Isto evita que o problema levantado pelo diagnóstico não fique sem uma posterior solução.
O informe é um laudo do que foi diagnosticado. Ele é solicitado muitas vezes pela escola, outros profissionais etc. Quaisquer que sejam os solicitantes é importante não redigir o mesmo laudo, pois existem informações que devem ser resguardadas, ou seja, para cada solicitante deve-se redigir informações convenientes. Sua finalidade é "resumir as conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas que motivaram o diagnóstico" (Id. Ibid., 2003, p. 138).
A mesma autora sugere o seguinte roteiro para o informe:
I. Dados pessoais;
II. Motivo da avaliação - encaminhamento;
III. Período da avaliação e número de sessões;
IV. Instrumentos usados;
V. Análise dos resultados nas diferentes áreas: pedagógica, cognitiva, afetivo-social, corporal.
VI. Síntese dos resultados - hipótese diagnóstica;
VII. Prognóstico;
VIII. Recomendações e indicações;
IX. Observações: acréscimo de dados conforme casos específicos.


Bibliografia:

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VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.
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