segunda-feira, 4 de julho de 2011

ALFABETIZAR: O DILEMA NOSSO DE CADA DIA

Sabemos que para aprender a ler e a escrever precisamos pensar sobre a escrita, pensar sobre o que a escrita representa, como a mesma representa graficamente a linguagem, que por sua vez está diretamente ligada aos pensamentos afetivos e que  foram processados singularmente.
Portanto estamos propondo a idéia de que há uma cadeia de significantes e significados, co-ligados por relações afetivas, sócio-culturais, interacionais, construídas ao longo do desenvolvimento humano. Sem dúvida não descartamos as possibilidades orgânicas e demais variáveis que possam interagir no processo da alfabetização/alfabetizador, porém nos deteremos neste recorte, já que as demais variáveis não fazem parte do escopo deste artigo.
         Hoje temos uma variedade  de teorias, técnicas e modelos para a alfabetização e por outro lado encontramos ainda  uma demanda de alunos que não se “encaixam” em nenhum destes modelos conhecidos.
         Chegamos ao ponto, o “conhecido”, muitas vezes  a procura de algo familiar transforma a prática educativa em regra , levando a imposição, a rigidez conduzindo a falta de resultados no processo de alfabetização.
Nestes momentos o educador se depara com  sentimentos de impotência,  desânimo, irritação, etc. Por outro lado no  aluno,  iniciam-se  ou acentuam-se os comportamentos de apatia, agressividade, desinteresse, baixa freqüência às aulas, etc. Sem que se percebam  educador/aluno estão presos na normatização do Sistema Educacional.
Encontramos então um impasse nessa relação professor/aluno, ambos paralisados e oprimidos  pelo desejo do conhecimento perdido?! O que fazer?
Vamos  refletir um pouco do ponto de  vista cultural, a pós-modernidade,  sendo pensada como intensificadora desse processo.
A característica da sociedade  pós- moderna é  a fragmentação social, o individualismo, o consumo  mercantil-tecnológico, a classe média, a flexibilidade das idéias e dos costumes, a liberação sexual, a educação permissiva, o desejo pelos bens de serviço no lugar do poder, o mundo das especialidades e ou especialistas, etc..
.O indivíduo  vive um tempo fugaz, hendonista e narcisista,  mexendo com suas perspectivas e referências diante do conjunto social. A história, a democracia, a família, a religião e a ética tendem a esfriar, os indivíduos estão se concentrando em si mesmos, hiperprivatizando suas vidas, o que conta é o aqui-agora.
Esse panorama reflete a  nossa realidade atual, e revela a realidade  de quem são nossos alunos, esses muitas vezes  impregnados por uma cultura paralisante.
Segundo BAUDRILLARD*(1993), a sociedade vive com o advento da pós-modernidade, um imenso processo de  destruição de significados, igual a anterior destruição das aparências provocada pela modernidade.
O que parecia estar seguro e representar algo de certeza, perde as certezas. No pós-moderno, as informações se tornaram produto de manobra, os fatos são transmitidos  através de uma comunicação racional, banal, perdendo o sentido e o conteúdo emocional.
Tudo isso  fazendo parte dos noticiários (imprensa falada/escrita), das novelas, dos desenhos, dos filmes  veiculados pelos meios de comunicação de massa, como exemplo predominante à televisão. Equipamento eletrônico presente na grande maioria das casas dos  brasileiros e muitas vezes sendo a única fonte de relação/informação com o mundo.
A pós-modernidade tem como característica  colocar a prova os avanços da ciência, questionando constantemente, gerando paradigmas e pluralidade de pensamento, porém revestida como mercadoria de consumo e poder.
Sendo assim, a educação faz parte desta dinâmica também, para falarmos em Alfabetização é imprescindível falar do Alfabetizador.
Precisamos considerar a “produção do saber escolar”,  em que  condições  desenvolve a formação profissional e a humanização do conhecimento no mundo contemporâneo, tarefa essa nada fácil para o Sistema Educacional!
Portanto propomos o modelo do EDUCOMUNICADOR, segundo a autora JACQUINOT**(1998). “Não é um professor especializado encarregado do curso de educação para os meios. É um professor do século XXI, que integra os diferentes meios nas suas práticas pedagógicas.”
Essa nova identidade profissional tem a dupla função teórica, unir as ciências da educação  com as ciências da comunicação. Tentaremos neste papel  unir os vários aspectos da aprendizagem, buscando nos meios de comunicação de massa, como por exemplo, à  televisão sendo a coadjuvante desse processo facilitador.
Sendo assim, necessitamos  nos destituir  dos  pré-conceitos sobre a TV, mas considerá-la como a aliada mais próxima da comunicação, linguagem e modelos identificatórios que nossos alunos possuem em seu cotidiano, aliás muitas vezes  fazendo o papel de companhia na ausência dos pais.
Sabemos por meio de pesquisas já realizadas que o público de alunos que assistem à televisão, independente de sua faixa etária, têm uma identidade formada sob diferentes aspectos, história pessoal ,  camadas sociais diferentes, mas destacamos particularmente o saber: que é fragmentado, pautado na imagem,  no imediatismo e destituído de significados.
O educomunicador, , portanto  tem esta função,  fazer as  inter-relações destas  culturas.
Muitas escolas , possuem equipamentos eletrônicos, como TV e vídeo, porém o que notamos é o uso ineficiente e/ou raramente utilizam-se deles como recursos pedagógicos em sua sala de aula, também muito pouco é aproveitado das comunicações orais  que os alunos trazem sobre o que assistiram na  “telinha”.
Os alunos chegam à escola dominando a  linguagem oral (variante empregada por seu grupo social), influenciada pelo padrão familiar, televisão e membros da sociedade que estão culturalmente inseridos. Essa linguagem tem uma  função para a vida infantil :sua adaptabilidade  à realidade, facilitar os relacionamentos, expressar seus  sonhos, desejos, opiniões, bem como seu ingresso à vida ajudando na conquista de sua autonomia.
Portanto temos  um fato a  considerar: as crianças já chegam a escola com relativa desenvoltura, cabe ao professor dar continuidade a essa linguagem sem interrompê-la de forma brusca, impondo as normas do  padrão culto (variante normatizado pela cultura).
A intervenção mediadora do professor pressupõe  transformar os  conjuntos de fragmentos e informações  trazidos pelo aluno (cultura, emoções, linguagem, etc...)  transformando-os em um conjunto integrado, e é sem dúvida uma das tarefas mais difíceis da escola atualmente.
Notamos sem dúvida, que as escolas e educadores que apresentarem menor resistência para admitirem que as apropriações do conhecimento e dos valores mudaram sobre a influência  pós-moderna, terão maior chance de modificarem o quadro atual de alunos com inibição na alfabetização e conseqüentemente conseguirão sucesso na alfabetização.
Segundo JACQUINOT (1998), historiadores e filósofos mostraram muito bem que a escrita e depois a impressão não mataram o saber, contudo modificaram a referencia do saber, isto é, as condições de sua transmissão, através da aprendizagem que era mecânica,  por repetição,  memorização, correspondente da linguagem oral. Ao aparecer a imprensa, valorizou-se o sentido da visão em detrimento dos outros sentidos, donde o interesse  foi delegado a imagem simbólica.
Os educadores  ao   iniciarem  um  trabalho de alfabetização com seus alunos  devem aproveitar o máximo da linguagem oral, através das quadrinhas, parlendas, músicas, canções ou fragmentos de assuntos televisivos, que  em geral eles sabem “de cor” ou memorizam com facilidade, porque  a transmissão é mecânica e  se aproxima da linguagem utilizada.
Num segundo momento, a utilização da imagem televisiva, programas, filmes, fotos, embalagens, marcas ou logotipos, permitem que o aluno imagine o que poderia estar escrito ou  poderá criar um texto com seu próprio conteúdo interpretativo.
Estudos em diferentes  línguas têm mostrado que, de uma correspondência inicial pouco diferenciada, o alfabetizando progride em direção a um procedimento de análise, e passa a  corresponder recortes do falado a recortes do escrito.  É um processo paulatino, mas os alunos irão percebendo as diferenças de modalidades cultas e orais e irão generalizando no seu cotidiano.
Destacamos que essa postura educativa se fundamenta na  utilização da diversidade das realidades sociais e culturais, implicando na mudança do papel do professor como  detentor do saber, cujo papel será então o de mediador. Também o uso dos recursos televisivos ou da imprensa, deverão se pautar numa atividade crítica, por exemplo: “aprender a responsabilidade do contexto da  escrita”, “aprender a distinguir um fato de uma opinião de massa”, etc.
Segundo a autora, o educomunicador  reconhece que não há mais monopólio da transmissão de conhecimento, e que não é só o professor que tem direito da palavra. Os professores que introduziram os meios na escola, a imprensa, a televisão, puderam perceber que isso provoca uma mudança nos objetivos e métodos de ensino.
Enfim, os educadores precisam admitir que as novas gerações possuam outras formas de aprendizagem.
Uma escola transformadora é uma escola consciente de seu papel político, cultural, ético, na luta contra as desigualdades sociais e econômicas, sua função deverá ser de instrumentalizar seus professores para que possam promover condições mediáticas, com o objetivo da formação dos cidadãos do século XXI.
MARINA  S. RODRIGUES ALMEIDA
Psicóloga, Pedagoga  e Psicopedagoga