sábado, 14 de maio de 2011

DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE


Os distúrbios comportamentais de atenção e
hiperatividade parecem englobar, na realidade,
quadros comportamentais variáveis e associados
a diversas patologias do sistema nervoso central.
Muitos desses quadros parecem ter uma causa
genética, porém outros parecem estar associados
a outros tipos de distúrbios do desenvolvimento
cerebral.
Muitas mães de crianças hiperativas relatam já
uma atividade fetal aumentada, e um recém
nascido muito irriquieto. Geralmente, o
aprendizado da marcha é rápido e logo a criança
está correndo. Dificilmente fica parada, mesmo às
refeições.
O tempo organiza nossa vida. Determina
nossas rotinas. À noite dormir; levantar pela
manhã; ir à escola (trabalho); almoçar, etc.
Para muitas tarefas parece não ser
necessário o relógio. O cansaço nos faz ir
para a cama, a fome nos leva a comer, etc.
Mas você já reparou que a fome, em geral,
surge no nosso horário habitual de
alimentação, e o sono em torno da hora em
que, em geral, nos acostumamos a ir para a
cama?
O cérebro utiliza muitos circuitos neurais para medir tempos, e
determinar os chamados ritmos circadianos: o ciclo vigília-sono,
os ciclos alimentares, hormonais, etc. Esses circuitos
desencadeiam a ação de outras áreas cerebrais que controlam
comportamentos básicos e repetitivos: sensação da fome, sono,
ovulação, etc.
Existem neurônios que são ativados quando um evento é
imaginado ou reconhecido pela nossa percepção. Imaginar ou
reconhecer um evento é integrar um conjunto de
acontecimentos dentro de um mesmo tema: sentarmos a mesa,
colocarmos comida no prato, comer, constituem acontecimentos
do evento "almoçar". Esses neurônios interagem com circuitos
neurais que se encarregam em registrar o tempo que dura cada
evento acontecido e também o tempo decorrido entre eles,
constituindo a memória retrospectiva. Quando eles interagem
com circuitos que se encarregam em definir o tempo de eventos
futuros constituem, junto com esses circuitos, a memória
prospectiva.

MEMÓRIA RETROSPECTIVA
Beto inicia seu novo período escolar. Sua mãe o acorda, ele vai à
escola, toma seu lanche, retorna para o almoço.
Para memorizar esses eventos, ele organiza a seqüência de suas
atividades na memória retrospectiva.
Os neurônios que reconhecem eventos ou episódios encontramse
na região do hipocampo e constituem a chamada memória
episódica. Outros neurônios vizinhos registram a seqüência em
que esses eventos ocorreram: primeiro levantar; depois
caminhar; depois lanchar, etc. Além da seqüência, também
medem os intervalos de tempos entre esses evento, por exemplo:
tempo lanche – tempo levantar é maior que tempo almoço –
tempo voltar.
Os tempos de todos os eventos de nossa vida são assim
registrados. Esquecemos de muitos deles, mas sempre
guardamos os mais importantes. Por isso, falamos do passado
sempre nos referenciando a eventos marcantes: Foi depois que
Beto nasceu ....; Aconteceu quando Lili começou o Ensino Infantil
..., e assim por diante.
Essa cronologia fica registrada através da eficácia da
conexão entre neurônios na região do hipocampo. Ali existe,
também, células que quando ativadas provocam em nós a
sensação de novidade e são chamadas de células de
novidade.
No hipocampo existem inúmeros neurônios de
reconhecimento episódico que nunca foram ativados e que
estão estreitamente conectados às células de novidade.
Quando um evento ocorre pela primeira vez, ele ativa
fortemente um desses neurônios, e sua estreita conexão com
a célula de novidade nos proporciona a sensação de
novidade. Mas essa forte ativação afrouxa a conexão entre
ele e a célula de novidade. Dessa forma, nas próximas vezes
que o mesmo evento ocorrer a sensação de novidade será
cada vez menor, pois o neurônio que agora reconhecerá
sempre esse episódio estará cada vez menos conectado com
a célula de novidade.
Lesões na região do hipocampo podem ter efeitos
devastadores, pois podem destruir a nossa
memória retrospectiva. Deixamos de reconhecer
nossos familiares, nossos amigos, os locais
importantes de nossa vida, etc. Tudo se torna
novo para nós e precisamos reaprender tudo outra
vez.
Alternativamente, as lesões podem destruir a
capacidade de reconhecer o recente. Não
perdemos nosso passado antigo, mas não
podemos gravar nosso passado recente. A partir
do momento da lesão, perdemos nossa
capacidade de guardar o ocorrido. Já não
podemos mais nos lembrar do que aconteceu
minutos atrás.
Beto está planejando ir brincar com seus amigos depois que
voltar da escola.
Para isso, ele organiza a seqüência de suas atividades na
memória prospectiva ou também memória executiva ou de
trabalho.
Mas precisa, também, utilizar informações da memória
retrospectiva sobre sua rotina e tempo de duração e de distância
entre seus eventos, para ativar circuitos controladores do tempo
futuro no lobo frontal. É como se pudesse contar com vários
despertadores, que podem ser colocados para ativar um
comportamento (ir à escola; tomar lanche; ...; brincar) em tempos
distintos, porém ordenados (primeiro escola; ...; por último
brincar ).
Distúrbios da memória executiva podem acarretar diferentes
tipos de problemas. Por exemplo, a criança pode perder a
capacidade de planejar suas atividades, o que pode ter um efeito
devastador em sua vida
A hiperatividade e os distúrbios de atenção,
característicos de um grupo de crianças, também têm
relação com uma disfunção da memória executiva. Os
circuitos frontais delas parecem ser incapazes de
programar seqüências longas de eventos. É como se não
pudessem utilizar despertadores para programar muitos
eventos ou eventos que ocorram por mais que alguns
minutos.
Imagine uma situação comum de sala de aula. Levantar;
ir à lousa; pegar o giz; escrever o que a professora ditar,
e voltar para a carteira.
A criança poderá programar, em sua memória executiva,
apenas: Levantar; ir à lousa. No meio do caminho, pode
se distrair com algum ruído e reprogramar sua memória:
Ir à porta; verificar o que aconteceu.
.

A noção de Tempo

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